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Vida com livros - Casas onde a biblioteca é a protagonista

Marisa Viera da Costa (Reportagem) / Zeca Wittner e Gilberto Jr (Fotos) - Estadão
Na biblioteca de Belluzzo, as estantes têm portas de vidro para deixar os 10 mil livros protegidos - Zeca Wittner/AEPara quem gosta de ler, é o lugar mais importante da casa. Na biblioteca, estuda-se, trabalha-se e mergulha-se em outros mundos. E pouco importa se são prateleiras abarrotadas ou uma simples estante, se há obras de arte por perto ou não: o que conta mesmo para estes leitores vorazes é ter um canto para uma boa leitura.
Na biblioteca de Belluzzo, as estantes têm portas de vidro para deixar os 10 mil livros protegidos
Apaixonado por livros, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo vem formando sua biblioteca ao longo dos últimos 45 anos. Tem 10 mil volumes que se espalham pelas estantes de duas grandes salas de seu apartamento nos Jardins, pelos armários do corredor e de dois quartos, sem contar os que estão empilhados na mesa de trabalho.
"Uma vez por semana, uma bibliotecária vem aqui guardar os volumes novos. Tudo é catalogado em um programa de computador", diz Belluzzo, ex-presidente do Palmeiras, que, mesmo já aposentado, é professor do curso de Relações Internacionais da Faculdade Campinas (Facamp), da qual é um dos fundadores. O resto do tempo ele passa escrevendo livros (tem oito editados, sobre economia) e, claro, lendo.
Apesar dos milhares de exemplares de sua coleção, de temas que vão de filosofia a ciência, ele sabe identificar os assuntos por prateleiras nas várias estantes de madeira com portas de vidro. Embora eclético, Belluzzo dedica boa parte de seu tempo às obras do economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946), que define como reformista e fundador de uma escola de pensamento, e assuntos que têm a ver com ele publicados nos sites de economia que consulta todas as manhãs.

                   
Belluzzo até já pensou em alugar um imóvel só para abrigar sua biblioteca, mas hesita em pôr essa ideia em prática. "Acho difícil me separar dos meus livros", afirma.
Mas foi isso que teve de fazer o escritor e artista plástico inglês Simon Lane quando se mudou para o Brasil há dez anos, depois de ter vivido em seis países. Autor de seis livros, o mais famoso deles Boca a Boca (editora Record, 2003), Lane trouxe cerca de mil exemplares (o resto está encaixotado na Inglaterra). Ainda assim, a biblioteca que mantém em seu apartamento em São Conrado, no Rio, ocupa boa parte dos dois andares do dúplex. A maioria dos livros, sua mulher, uma socialite carioca, herdou da família e está acomodada no móvel projetado pela decoradora Rosa May Sampaio - estantes de madeira laqueada de branco com fundo de fibra de vidro pintada de preto.
"A maior parte de nossos livros é de literatura, mundial e brasileira, e arte. Entre as nossas raridades estão um volume de Macunaíma com gravuras de Caribé, reproduções de manuscritos de Carlos Drummond de Andrade com ilustrações de Portinari, e a primeira edição de Beyond de Mexique Bay, de Aldous Huxley (1934), que trouxe da Inglaterra", conta. Lane atualmente está escrevendo um livro sobre a visão de um estrangeiro sobre o Brasil, que deve ser lançado em 2012. "Passo cerca de oito horas escrevendo e lendo, até a hora de dormir", conta. O livro de cabeceira? "Todos de Vladimir Nabokov."
                    
Quem também tem raridades na biblioteca de sua casa nos Jardins é Rosa May Sampaio. De tradicional família carioca (seu avô, Carlos Sampaio, foi prefeito do Rio de 1920 a 1922), a decoradora estudou letras na PUC do Rio e arte na École du Louvre, em Paris. Entre volumes de literatura brasileira e portuguesa, biografias, coleções de arte e obras completas de escritores clássicos, encontram-se um exemplar em inglês de A Bela Adormecida, do século 19 e uma coleção em miniatura das obras de Shakespeare. Rosa diz que lê todas as noites e que não admite uma casa sem livros. "Sem eles, é uma casa sem alma", afirma.
                                     
Herança. Filha e sócia de Etel Carmona na Etel Interiores, a administradora de empresas Lissa Carmona Tozzi é outra leitora voraz. "Quando era pequena, levantava mais cedo só para ler e fui bastante incentivada pelo meu pai e minha avó, de quem herdei boa parte da minha biblioteca", diz Lissa, que desenhou com a mãe a estante de ipê com 6,30 m de comprimento por 2,45 m de altura onde está boa parte de seus livros de história, arte e romances.
"Tenho uma coleção de poetas brasileiros, e obras completas de Machado de Assis, Fernando Pessoa, Dostoievski, Eça de Queiroz. Edgard Alan Poe e Paul Auster", enumera. Lissa, que está na fase dos autores japoneses, como Yasunari Kawabata e Haruki Murakami, Lissa gosta de ler na poltrona do Liceu de Artes de Ofícios revestida de couro caramelo ou no sofá, com a cadela Rose. "Mudo os complementos da sala de acordo com a estação. Agora no inverno, as almofadas são de pele para aumentar a sensação de acolhimento na hora da leitura."
                                       

Clima ideal para a coleção
Ter uma boa biblioteca implica manter livros arrumados e em bom estado. Domingos Fiuza, sócio do Habilis Atelier, especializado na encadernação, douração e restauração, diz que o primeiro passo, em grandes bibliotecas, é manter o local climatizado, com desumidificador e ar-condicionado. "A temperatura deve ficar entre 20 e 23 graus. O ambiente também não pode ser muito seco para não rachar o couro das capas."
Bem cuidada e bonita
  • Escolha um lugar sem umidade para instalar a biblioteca ou simplesmente a estante com os livros. Evite deixar os volumes encostados diretamente na parede
  • Não use luzes fortes para não ressecar as capas de couro
  • Investigue periodicamente se a estante ou armário está livre de cupins. Uma biblioteca com mais de mil livros deve ser limpa a cada seis meses
  • Para ajudar na hora de encontrar um volume, organize a coleção por assuntos ou por autores. Em uma biblioteca grande, o ideal é contratar um bibliotecário para fazer a catalogação
  • Pequenos objetos, fotos de família ou apoiadores de livros podem decorar as prateleiras sem atrapalhar na organização
Raridades preservadas
Quem guarda raridades na biblioteca precisa redobrar os cuidados, para evitar, por exemplo, cupins. "Quando isso acontece, temos de fazer a desinfecção, que consiste em incubar os volumes em câmaras de gás ou espalhar veneno em pó", diz Domingos Fiuza, sócio do Habilis Atelier. Também é possível amenizar o aspecto amarelado das páginas usando produtos químicos, sempre com auxílio de um especialista.

Publicado originalmente no site do Estadão em 01 de julho de 2011.

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